Diretor de Paraísos Artificiais aponta: "cinema nacional tem de se tornar uma indústria"


Em entrevista, Marcos Prado falou sobre novos projetos.
São Paulo - Cerimônia do Oscar chegando - 24 de fevereiro -, Marcos Prado lamenta a rara presença de filmes brasileiros na premiação. Por que o Brasil emplaca tão poucas produções? "Não tenho uma resposta precisa, mas sei que é muito difícil fazer, por aqui, filmes autorais", constata o produtor dos dois filmes da franquia Tropa de Elite, autor do premiadíssimo documentário Estamira e diretor do longa Paraísos Artificiais. Falta marketing? "Falta marketing, estratégia nos mercados internacionais e apoio do governo", resume.
Sem palpite, ainda, sobre o vencedor da estatueta, Prado conversou com a coluna, entusiasmado com seus novos projetos. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Depois de Paraísos Artificiais, qual o próximo projeto?
Marcos Prado - 
Vou dirigir um filme chamado Nó na Garganta, sobre gangues de futebol. Já entramos com pedido de financiamento no BNDES e estamos captando recursos. Está orçado em R$ 10 milhões. Vamos mostrar as razões pelas quais esses garotos vivem a paixão de torcer, de viver aquela intensidade do futebol. Coisa bélica, o que está por trás disso. Quero explorar esse nicho de garotos de classe um pouco mais baixa, apesar de existir muita gente da classe média envolvida na violência do futebol. Tentar entender, sem fazer apologia.

Algum outro projeto?
Marcos Prado - 
Em fase de elaboração de roteiro está a história do Rickson Gracie, mestre do jiu-jitsu. Mas é sobre sua história, não a da luta. E um outro filme a respeito da tomada do Morro do Alemão, no Rio de Janeiro. Ambos serão dirigidos pelo Zé Padilha. Este do morro, por ora estamos chamando de A Invasão do Alemão. Será uma história baseada no livro do Rodrigo Pimentel e do Gustavo Almeida, que será publicado este ano. E da nossa caixa de Pandora sairão um documentário e uma série de TV sobre Tropa de Elite. Ainda estamos negociando o canal para tanto.

Como você e o Padilha começaram a trabalhar juntos?
Marcos Prado - 
Sempre fomos muito amigos. O Padilha trabalhava em banco. Um dia, ele chegou e desabafou: "Meu irmão, a era Collor me faliu". Respondi: "Pois eu não!". Claro, a verdade é que eu não tinha nada para ser confiscado, estava era duro mesmo. (risos) Ele, então, me disse que queria trabalhar com documentários, coisa que eu já fazia havia muito tempo, e propôs o tema dos carvoeiros. Acabamos filmando Tropa de Elite.

Era para ser documentário?
Marcos Prado - 
Era, mas acabou virando ficção, porque não encontramos uma maneira de falar sobre a polícia. Entrevistar policiais com a cara lavada não dava, ia ficar chato. Aí, o Zé passou dois anos desenvolvendo roteiro. E fomos bem.

A Ancine funciona?
Marcos Prado - 
Funciona, mas está um pouco engessada.

E o BNDES?
Marcos Prado - 
Ajuda. E existem outros incentivos, mas são todos caros. O cinema não vai virar indústria devido às regras vigentes do cinema nacional.

É difícil arrumar financiamento para o cinema aqui no Brasil?
Marcos Prado - 
Não é nada fácil. A Ancine regulamenta o cinema e limita em R$ 7 milhões a captação de recursos federais. Existem, ainda, alguns incentivos estaduais e municipais, que elevam esse teto, mas nada significativo. O problema é que esse patamar é baixo para produções maiores.

Os diretores brasileiros estão começando a dirigir lá fora. O Padilha, por exemplo.
Marcos Prado - 
Estão indo lá para fora porque é um sonho que pode virar uma realidade muito legal. O Padilha pode se tornar um diretor querido gringo - que vai ter mais liberdade no futuro. Agora, está fazendo um filme de US$ 100 milhões, Robocop 4. Mas com pouca autonomia.

Na captação, então, por meio da Lei Rouanet, o máximo que o investidor pode deduzir de imposto de renda são R$ 7 milhões?
Marcos Prado - 
Isso mesmo. Sendo que R$ 3 milhões desses R$ 7 milhões são relacionados às distribuidoras - subsidiárias, na sua imensa maioria, de empresas lá de fora. Elas podem, por lei, reaplicar no cinema um porcentual do que habitualmente remetem ao exterior. Com esse direito, acabam virando coprodutoras. Exemplo: eu sou uma distribuidora, olho o seu projeto e me interesso. Então, entro com você no seu filme, mas você vai ter de assinar contrato comigo. Aí, tenho de abrir mão de parte do que é meu.

Então, na realidade, livres mesmos para captação são apenas R$ 4 milhões?
Marcos Prado - 
Mais ou menos isso, pois essa prática com as distribuidoras está disseminada no mercado. Aí você vai indo e percebe que, cada vez mais, tem de ceder os direitos do seu filme. Muita gente tem de ceder também para os investidores e outros. Por exemplo: se você faz algo sem a Globo Filmes, acaba não lançando o filme. Então, você cede - e são mais 20%. Como 50% da bilheteria são do exibidor, sobra pouco. Produtor não tem chance de ganhar dinheiro no cinema nacional.

E não tem uma saída?
Marcos Prado - 
Muitos descontam no salário! Colocam lá em cima. Aí, vem a Ancine, diz que não pode fazer isso. O cara tem de rebolar para arrumar uma maneira de se garantir. Está errado. A indústria tinha de sobreviver sem esses subterfúgios. Mas é difícil.

Vocês mesmos fizeram a distribuição de Tropa de Elite? 
Marcos Prado - Foi o que aconteceu. E nós nos organizamos para ter 70% de todo o filme. Montamos uma nova distribuidora, chamada Nossa, em parceria com a Conspiração, com a O2, com a Lereby (do Daniel Filho) e outros que fazem cinema comercial. No molde que a gente propôs, o mercado gostou e se uniu para criar uma opção. Só que essa opção requer uma coisa difícil para o produtor: investir dinheiro no lançamento, coisa que a lei não permite. Estamos tentando reinventar uma fórmula para o cinema nacional virar indústria.

O que acha da concorrência DVD versus sala de cinema?
Marcos Prado - 
A experiência do cinema está diminuindo, com certeza. Quanto mais tecnologia e poder aquisitivo, mais as pessoas passarão a assistir cinema em casa. Mas a principal receita para o produtor ainda vem dos ingressos nas salas de exibição.

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