Água mineral de Minas pode virar patrimônio histórico


Parque das Águas de São Lourenço pode ser tombado por recomendação do Ministério Público ao Iepha, e fontes minerais que deram origem à cidade se tornariam patrimônio imaterial


Publicação: 22/03/2013 06:00 Atualização: 22/03/2013 07:13

A área de 490 mil metros quadrados é o maior atrativo da cidade do Sul de Minas: no local há oito fontes, algumas delas incluídas entre as melhores do mundo (Maria Tereza Correia/EM/D.A Press - 10/05/12)
A área de 490 mil metros quadrados é o maior atrativo da cidade do Sul de Minas: no local há oito fontes, algumas delas incluídas entre as melhores do mundo


No Dia Mundial da Água, celebrado nesta sexta-feira, uma boa-nova para os protetores do meio ambiente e admiradores das belezas de Minas. O Ministério Público estadual enviou recomendação ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) para que o Parque das Águas de São Lourenço, na Região Sul, seja tombado “em função de seu relevante valor cultural para o município e o estado”. A instituição pediu também o registro do uso das águas minerais como patrimônio imaterial, algo inédito no país em se tratando desse recurso natural, de acordo com o coordenador das promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico (CPPC), Marcos Paulo de Souza Miranda. “Essas águas deram origem à cidade de São Lourenço em 1817 e não há proteção federal, estadual ou municipal para esta estância hidromineral”, afirma Miranda, que atuou ao lado da coordenadoria das promotorias de Justiça de Defesa da Bacia do Rio Grande e Promotoria de Defesa do Patrimônio Cultural da Comarca de São Lourenço.

Sempre pertencente à iniciativa privada, a área de 490 mil metros quadrados, localizada no Centro, é o maior atrativo do município e abriga oito fontes de água gasosa, sulfurosa, alcalina, ferruginosa, magnesiana, entre outras, consideradas únicas e cotadas entre as melhores do mundo. O anúncio do pedido de tombamento e registro foi feito na noite de ontem, durante a solenidade de entrega da Comenda Ambiental Estância Hidromineral de São Lourenço.

 “No Circuito das Águas, esse parque é o único que não tem proteção. Temos certeza de que esse reconhecimento vai agregar valor a ele, favorecer o turismo e permitir maior valorização do balneário construído em 1935”, defende Marcos Paulo. O Iepha, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que já tem em mãos o documento, que será analisado pela diretoria técnica.

Segundo a historiadora Maria Aparecida Martins Duarte, do Departamento Municipal de Cultura, o parque já foi inventariado. A última atualização desse trabalho ocorreu em dezembro. As pesquisas mostram que a implantação impulsionou o processo de formação da cidade por quase um século. A descoberta de fontes hidrominerais foi importante não só para toda a região do Circuito das Águas como também para o país, pois até meados do século 18 só eram conhecidas duas fontes: uma em Cipó (BA) e outra em Caldas Novas (GO). A notícia do poder curativo das águas de São Lourenço se espalhou, atraindo grande número de forasteiros e pessoas em busca de cura e da novidade.

Desenvolvimento
Balneário foi criado em 1935, quatro décadas após a primeira captação gasosa (João Martins/O Cruzeiro/EM/D.A PRESS - 18/10/60)
Balneário foi criado em 1935, quatro décadas após a primeira captação gasosa


Os especialistas contam que o incentivo à exploração das fontes, assim como a posterior industrialização, foi fator fundamental para o desenvolvimento econômico, social e turístico do município, além de influenciar sua ocupação efetiva, dinamizar o sistema viário e fortalecer as atividades comerciais e serviços. O pedido de tombamento foi bem recebido. Para o chanceler da Comenda Ambiental, Eugênio Ferraz, “ele vai assegurar a perenidade do parque e das águas, que são, há décadas, fonte de vida e saúde para os brasileiros”. A escritora Ivanise Junqueira disse que “o tombamento é uma ação que vai além do tempo e espaço, já que garante para as futuras gerações uma fonte inesgotável, pois, no entorno, gravita toda uma cidade e um sentido de vida”. Para o prefeito José Neto, “a medida deixa claro que o parque está em terras de São Lourenço, mas suas águas pertencem à humanidade”.

A direção da Nestlé informou ontem que ainda não tomou conhecimento oficial da iniciativa do MPMG.

Do poder medicinal à comercialização

A formação histórica da Companhia de Águas São Lourenço teve início com a aquisição das terras até então conhecidas como “Sítio do Viana”, próximo à Freguesia de Nossa Senhora do Carmo (atual Carmo de Minas), pelo comendador Bernardo Saturnino da Veiga, um visionário pertencente à família dos Veigas – ele veio de São Paulo para a cidade de Campanha, também no Sul de Minas. Era o fim do século 19. A repercussão do poder curativo das “Águas do Viana” chamou a atenção dos Veigas, que se interessaram em conhecer melhor as potencialidades dos poços e fortaleceram a ideia de erguer um empreendimento para exploração industrial e regulamentação da aquisição das fontes hidrominerais.

De posse dos terrenos, eles conseguiram a autorização para exploração, fundando a Companhia de Águas Minerais de São Lourenço, cujo estatuto foi aprovado por decreto oficial de 4 de junho 1890, sob a concessão da Secretaria dos Negócios da Agricultura Comércio e Obras Públicas de Minas Gerais.

A implantação do projeto paisagístico do atual parque das fontes se deu a partir de 1935. A concepção é de origem francesa, dos tempos da belle époque, sendo considerado um dos melhores e mais completos do mundo. As fontes foram cercadas, construindo-se o balneário e o lago, que tem 90 mil metros quadrados de área. Esse último tem funcionado como zona de recarga das fontes que o cercam. O sistema de envasamento de água passou por um processo de modernização com a instalação de laboratório de análises.

Quase bicentenário

1817 –Padre Manuel Ayres de Casal registra a existência de água mineral perto de ribeirão afluente do Rio Verde, em terras da freguesia de Carmo do Rio Verde
1826 – Antonio Francisco Viana descobre, nas terras de seu pai, João Francisco Viana, uma nascente de “água que fervia” no lodaçal e tinha sabor diferente
1884 – No período em que se deu a construção da Estrada de Ferro Minas e Rio, já havia abrigos incipientes para os que procuravam as águas minerais
1890 – As terras são adquiridas pelo comendador Bernardo Saturnino da Veiga e, em março, a Companhia das águas Minerais de São Lourenço é constituída. Engenheiros foram responsáveis pela planta da povoação e pelo serviço de captação das fontes
1892 – Em 10 de agosto é inaugurada a primeira fonte captada (gasosa). Professor Alfredo Schaeffer, da Escola de Minas de Ouro Preto, foi responsável pela análise das águas
1895 – Em agosto, nova firma é constituída por Saturnino da Veiga e João Pedro da Veiga Filho, com o acervo da antiga empresa, desde março de 1895 sob a presidência do senador Antonio Dino da Costa Bueno. A nova firma passa a se chamar Companhia das Águas Minerais de São Lourenço
1905 – Em 18 de março, a empresa França e Nova sucede a anterior. Na sequência, a concessão da exploração das águas é transferida para as firmas Herm Stoltz & Cia, Vieira Matos & Cia e Companhia Vieira Matos
1923 – Em 22 de maio, após nova sucessão, o acervo é transferido para o Banco da Lavoura e Comércio do Brasil. As inúmeras sucessões ocorreram em virtude da falta de recursos para construção e preservação da vasta área
1925 – Em novembro, é constituída a Sociedade Anônima Empresa de Águas de São Lourenço, havendo a incorporação de bens
1929 –O comendador Francisco de Souza Costa assume a direção da companhia e leva o engenheiro José Ferreira de Andrade Junior para fazer a captação definitiva das fontes gasosa, magnesiana, alcalina, ferruginosa, vichy e sulfurosa. O trabalho durou 25 anos
1935 – Jaime Sotto Maior assume a presidência e constrói o balneário, pavilhão das fontes magnesiana/alcalina e conclui a construção do lago. No período também ocorreram relevantes transformações no sistema de engarrafamento das águas
1974 –Controle acionário da Empresa de Águas São Lourenço é transferido ao grupo francês Perrier, responsável pela modernização do setor de engarrafamento das águas minerais e pela expansão de sua comercialização.
1986 – Construído um novo parque, anexado ao já existente, conhecido como Parque II, sendo que duas novas fontes foram captadas na área: a sulfurosa e a ducha sulfurosa
1992 –Grupo Nestlé assume o controle acionário da empresa Perrier, na França, que administrava o Parque das Fontes em São Lourenço.

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