Mercado cresceu, mas ainda não saiu da casa dos pais

Por Aline Sant Ana em 12/03/2013 na edição 737


O título é uma provocação. Você lê revista alternativa? Nos últimos dois anos, tenho me dedicado curiosamente à leitura de periódicos fora do circuito, digamos, convencional da comunicação. Como nesses anos estive relativamente longe dos centros culturais aos quais era habituada, minha única fonte de inspiração foi a internet mesmo. Comecei pelas revistas digitais. E desde então, não parei de me interessar por elas.
Nesse tempo, descobri que a proposta das revistas digitais no Brasil surgiu com o intuito de fornecer uma adaptação da linguagem jornalística, opinativa e interpretativa, aos meios digitais. Na primeira década dos anos 2000, a transposição desses periódicos impressos para a versão online trouxe uma característica incipiente ao acesso e à produção de conteúdos alternativos. Vale lembrar que os blogs e as primeiras redes sociais (MySpace, Linked In, ICQ e MSN) deram uma boa alavancada na autoafirmação de tribos, que desenvolveria, poucos anos depois, um espaço alternativo de opinião.
As revistas independentes nasceram, então, com um quê amadorístico, restrito ao gosto e à criticidade de um público específico. Essas revistas alternativas, como também são chamadas, surgiram como forma de expressão e coloquialidade no espaço transcendental da pós-modernidade, isto é, na busca (ou não) por uma identidade autêntica. Daí por diante, houve uma explosão de temas, formatos e conceitos que fizeram do alternativo um mercado livre e criativo a ser explorado. O último estudo do Instituto de Verificação de Circulação (IVC) mostra que só no ano de 2010 cerca de 300 milhões de revistas novas ou descontinuadas entraram em circulação. Em sua maioria, atendiam um fluxo de produção diferente das grandes revistas, com muitos eixos (editoriais), mas, ainda assim, seguiam linhas editoriais especializadas.
O que nasce nas tendências
Hoje não é muito difícil encontrar revistas que falam de música ou moda, sem termos a ingerência de temáticas já apresentadas em revistas como Rolling Stones ou Vogue, por exemplo. É certo que a linguagem e o produto estético são muito diferentes nestes casos, mas a preocupação em seguir uma agenda editorial é visível. Tem até um artigo aqui no Observatório que fala sobre isso.
Apesar do IVC não ter um estudo específico que determine a linha editorial das novas revistas digitais, alguns dados apresentados na última pesquisa (2011) revelaram que de 2007 a 2010 houve um crescimento expressivo de “revistas novas ou descontinuadas”. No estudo não há a designação para a categoria independente, mas sabemos ser possível identificá-la a partir dos declínios de rendimento do mercado editorial formal. No entanto, o possível crescimento do mercado alternativo parece não ter abalado o mercado editorial, pois, segundo o IVC, “as edições digitais não apresentaram números [e repercussão] expressivos que marcassem nenhum movimento importante no período analisado”.
Neste sentido, me permito pensar que esse espaço independente pode estar ainda seguindo o fluxo de criação do grande mercado editorial, pois as formas alternativas não conseguiram impactar (ou pelo menos não têm impactado) de forma expressiva o consumo das grandes marcas. Penso que não basta ser gratuita para ser independente. Não basta não ter editora para ser independente. Não basta ser informal para ser independente. O independente de que falo é a razão. Esse independente que nasce na corrente de tendências, de alternativismos (que não têm nada a ver com ser alternativo), que promove uma imagem ou um comportamento a ser seguido, para mim não é independente.
Uma observação
O independente que digo é o compromisso com a identidade, com nós mesmos. Ser independente é ter confiança na liberdade e a certeza na igualdade. Uma certeza que vem quando alguém aprecia o nosso trabalho e diz “Eu me identifiquei”. É para isso, e por isso, que as revistas independentes deveriam buscar espaço. Mas, ao acompanhar o crescimento latente de mídias independentes percebo (não sei vocês) que há uma preocupação, quase hedonista, de querer ser grande, de querer ser popular e de querer ser conhecida. Isso me incomoda de certa forma.
Quando a Samuel, a Trip e a Interesse Nacional foram para o portal UOL, por exemplo, parece que o emaranhado de informações começou a ser desinteressante para mim porque eu não conseguia mais me surpreender com os temas. Certa vez, eu tinha acabado de ler um artigo sobre o Criollo e a provável falta de amor em São Paulo, abri a página da Trip na internet e dei de cara com uma reportagem sobre o Criollo e suas constatações do amor. Ok! Foi uma reportagem meio literária, teve outro foco e uma linguagem cultural que valorizou a expressão da arte do cantor. Mas tinha que ser com o Criollo outra vez? Se eu tivesse feito as contas de quantas revistas (comerciais ou não) falaram do Criollo e da Tulipa Ruiz em 2010, com certeza, esse texto teria uma análise bem mais interessante.
Mas o que eu quero trazer, na verdade, não é uma crítica. É uma observação. Uma observação de filha que saiu de casa, mas que ainda vive com a grana dos pais.

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