UFMG implanta Campus Cultural em Tiradentes (MG) com abertura do Museu Casa Padre Toledo


A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) dá início à implantação de seu pioneiro Campus Cultural de Tiradentes, o primeiro do gênero no país, com a reabertura do Museu Casa Padre Toledo, na próxima quarta-feira, 12 de dezembro, em solenidade que começa às 17h. Sediado na residência setecentista do padre inconfidente Carlos Correia de Toledo e Melo, considerada uma das edificações urbanas históricas mais valiosas do Brasil, o museu estava em restauração desde 2010 e irá, agora, abrigar rico acervo retratando o cotidiano de uma casa colonial e o ambiente religioso do século XVIII, além de exposições temporárias.
O Museu Casa Padre Toledo – local onde os inconfidentes mineiros tiveram seu primeiro encontro, em 1788 – é um dos quatro imóveis localizados em Tiradentes que pertencem à Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade (FRMFA), controlada integralmente pela UFMG desde 2008. Os outros são os prédios da Câmara Municipal, da Cadeia Pública e do Centro de Estudos, Galeria e Biblioteca Miguel Lins. Juntos, eles vão compor o Campus Cultural da UFMG na cidade histórica mineira, localizada a 194 quilômetros de Belo Horizonte.
Os trabalhos de restauração arquitetônica e artística e a concepção do projeto museológico realizados para a abertura do Museu Casa Padre Toledo foram coordenados pela UFMG e demandaram investimento de cerca de R$ 2 milhões, aportados pela Universidade e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O processo de restauração, além de complexo, revelou novos afrescos, com a descoberta, sob camadas de massa e tinta, pinturas de grande valor histórico e artístico nas paredes e forros, que estão sendo recuperadas por profissionais do Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis (Cecor), ligado à Escola de Belas Artes da UFMG.
A alta complexidade do trabalho de restauração do Museu se deve, em primeiro lugar, ao fato de que o imóvel é tombado tanto pelo seu valor arquitetônico quanto pela sua riqueza artística. Foi preciso realizar, no mesmo momento, obras civis e serviços de restauro na área de belas-artes. “O planejamento para compatibilizar essas duas frentes é trabalhoso. Mantivemos conversa franca e constante entre nossas equipes e também com os técnicos do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), que fiscalizaram os serviços”, explica o arquiteto e professor André Dângelo, superintendente executivo da FRMFA.
O torreão anexo de dois pavimentos acrescido ao projeto original ainda no século XVIII apresentava grande instabilidade, uma vez que mudanças no terreno e na drenagem ao longo do tempo canalizaram excesso de umidade para a fundação desse anexo. Além disso, essa parte abrigava pinturas artísticas feitas diretamente sobre o reboco de forros e paredes. “Além do reforço de estrutura, dificultado porque não se podia retirar o reboco, e da implantação de um novo sistema de drenagem, era preciso consolidar as pinturas”, diz Dângelo.
No prédio principal (localizado em terreno de cerca de dois mil metros quadrados e com oitocentos metros quadrados de área construída), foram trocados o barroteamento (sustentação do piso), forros sem pintura artística e a parte elétrica, sempre seguindo normas muito bem definidas.
O patrimônio artístico do Museu Casa Padre Toledo estava em estado avançado de deterioração, em grande parte devido ao ataque de insetos e à ação das águas pluviais nos forros. Coordenada pela professora Betânia Veloso, da Escola de Belas-Artes da UFMG, a restauração artística contou com auxiliares contratados na própria comunidade e recebeu visitantes para sessões de educação patrimonial.
A equipe encontrou 11 forros pintados, com motivos diversos – frutas, símbolos episcopais etc. – que ajudaram a identificar as funções dos cômodos, já que grande parte dos bens foi expropriada na ocasião da prisão do proprietário, junto com os outros inconfidentes. “As pinturas de excelência dão bem a ideia da grandiosidade da casa, que refletia o poder da Igreja na época e abrigava festas, reuniões, batizados e eventos musicais”, ressalta Betânia Veloso, acrescentando que ainda há muita pesquisa a ser feita e que diversas pinturas nas paredes recém-descobertas ainda vão passar por restauração.
“Peças danificadas foram refeitas ou repostas, seguindo-se as especificações dos materiais originais, como no caso da madeira, em que foram utilizados peças de mesmo tipo e proporções”, explica Maurício Campomori, pró-reitor adjunto de Planejamento e professor da Escola de Arquitetura da UFMG.
Projeto Museológico
O projeto museológico selecionou objetos e documentos que retratam a história de uma residência colonial e dos inconfidentes. A casa em si, com sua especial relevância histórica e arquitetônica, é uma atração nesta fase de abertura do Museu. “É excepcional que uma moradia civil do final do século XVIII possa ser recuperada para o conhecimento da população”, destaca o professor Rodrigo Minelli, responsável pelo projeto.
O projeto contempla, ainda, espaço para exposições temporárias, que, nesta fase de reinauguração, terá o acervo da Coleção Brasiliana, doada à UFMG por Assis Chateaubriand, contendo peças e objetos do Império e o mais completo conjunto de aquarelas do Brasil Colônia.
O quintal do imóvel vai abrigar projeto de pesquisa sobre a arqueologia da Inconfidência Mineira, sob coordenação do professor Carlos Magno Guimarães, do Departamento de Sociologia e Antropologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG. “As obras já revelaram objetos de época e existe a convicção de que o trabalho dos arqueólogos vai descobrir muito mais”, afirma Mauricio Campomori.
Campus Cultural em Tiradentes: formação em diversas áreas e experimentação de novas tecnologias
Nos imóveis pertencentes à Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade, a UFMG vai implantar biblioteca sobre o século XVIII, um museu de arte sacra (com acervo de imagens de Sant’Ana, de propriedade do Instituto Cultural Flávio Gutierrez – ICFG) e um centro de experimentação para a produção de conteúdos culturais e didáticos multimidiáticos – além do Museu Casa Padre Toledo.
Assim, pesquisadores e estudantes de áreas diversas – como museologia, arquivologia, história, conservação e restauração de bens móveis, dentre outras – terão à sua disposição novos e importantes equipamentos laboratoriais com o início das atividades do Campus Cultural da UFMG em Tiradentes.
A implantação do campus tem também alto valor simbólico, de acordo com o professor João Antônio de Paula, pró-reitor de Planejamento da UFMG. “A presença da Universidade em Tiradentes materializa vínculos que remetem ao sonho dos inconfidentes com uma universidade em Minas Gerais. A instituição alia forte ligação com a tradição barroca, com as raízes republicanas e com as ideias de liberdade com o Modernismo, já que vários escritores foram alunos ou professores da Universidade”, diz João Antônio.
O museu de arte sacra ficará abrigado no prédio da Cadeia Pública e será cedido em comodato, por 30 anos ao ICFG. O contrato será assinado na solenidade de inauguração do Museu Casa Padre Toledo, assim como o termo em que o Instituto se comprometerá, como contrapartida, a ajudar a captação de recursos para viabilizar a implantação do centro de estudos e a biblioteca sobre o século XVIII.
Biblioteca de referência internacional
Localizada no prédio da antiga Câmara Municipal de Tiradentes, a biblioteca pretende ser um grande centro de referência sobre o barroco mineiro, com uma abordagem que extrapole tanto o século XVIII quanto o próprio barroco e Minas Gerais. “O centro vai viabilizar pesquisas sobre história, política, sociedade, arte e cultura, incluindo as relações com a cultura europeia, entre diversos outros aspectos”, explica João Antonio, acrescentando que será um empreendimento único no Brasil.
A biblioteca terá acervo inicial de cinco mil itens, e as primeiras aquisições já começaram a ser feitas em instituições de países como a Bélgica. A expectativa é de que a coleção triplique em dez anos. Além de documentos e livros em papel, pesquisadores terão acesso, a partir de Tiradentes, a acervos digitais de alguns dos mais importantes centros que tratam dos temas correlatos. Nesse sentido, já estão sendo feitos contatos institucionais que resultarão em convênios.
Um dos projetos, segundo o pró-reitor de Planejamento, é que a biblioteca ofereça aos estudiosos todas as obras que serviram de inspiração e consulta para os inconfidentes, e que foram identificadas na época por ações como os Autos da Devassa. A UFMG prepara também um programa de bolsas para pesquisadores que viabilizará temporadas em Tiradentes. A construção de alojamentos é objeto de negociações com o Iphan.
Tecnologia e experimentação
Se a biblioteca do século XVIII será um novo incentivo para estudos com foco na história, o Campus Cultural da UFMG aponta para o futuro, ao implantar o Centro de Experimentação e Pesquisa em Sistemas Multimodais, que desenvolve projetos com base na relação das tecnologias de informação e comunicação com a tríade arte-ciência-educação.
Baseado hoje na Escola de Belas-Artes e no Conservatório UFMG, o centro produzirá conteúdo educativo para a rede municipal de ensino, explorando o patrimônio cultural, histórico e ambiental de Tiradentes e região. Os pesquisadores vão elaborar também sistemas para dispositivos móveis que vão servir de guias virtuais para visita ao Museu Casa Padre Toledo e à própria cidade, incluindo informações sobre roteiros, equipamentos turísticos e preservação ambiental.
Segundo Mauricio Campomori, a atuação em Tiradentes de um laboratório como o de sistemas multimodais aproveita a expertise da UFMG em áreas como desenvolvimento de softwares e cinema de animação, e ainda a vocação da cidade para as artes ligadas à imagem, representada pelo sucesso do festival anual de cinema.
“Além disso, Tiradentes tem localização estratégica, entre Rio, São Paulo e Belo Horizonte, e dispõe de um aeroporto, que facilita o acesso. E tem se transformado em polo de experiências para o Ministério da Educação, com projeto que distribui um computador por aluno, o Ministério das Comunicações, com a implantação de internet sem fio de alta velocidade em toda a cidade, e do BNDES, que testa práticas e formatos de patrocínio por meio da lei de incentivo à cultura”, afirma Campomori.
Se até pouco tempo atrás a UFMG concentrava sua atuação na capital, a implantação do campus cultural em Tiradentes ajuda a consolidar a sua interiorização, que envolve Montes Claros, no Norte de Minas, com a sede do Instituto de Ciências Agrárias, e o Vale do Jequitinhonha, onde a Universidade desenvolve projetos diversos, incluindo o Festival de Inverno de Diamantina, além de Pedro Leopoldo, município no qual mantém uma fazenda experimental.
“A presença da UFMG em Tiradentes terá impacto significativo para o desenvolvimento da cidade e da região, que serão transformadas em polo de pesquisa e ensino de excelência, com a valorização de seu patrimônio artístico, histórico e natural, além de oferecer recursos valiosos para pesquisadores e alunos, e não apenas da UFMG”, diz João Antonio.

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